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Um alerta contra práticas ‘não ortodoxas’ ao mercado

19 de agosto de 2015

Rodrigo Botti, da Terra Brasis, diz que reabertura é positiva, mas pode ter efeitos nocivos se grupos focarem apenas em envio de prêmios ao exterior

Rodrigo Botti, CFO da Terra Brasis

Rodrigo Botti, CFO da Terra Brasis

Uma das principais resseguradoras locais do Brasil alertou para o risco de que a reabertura do mercado também marque o retorno de práticas que motivaram a adoção de medidas restritivas logo após o fim do monopólio estatal.

Em entrevista à Risco Seguro Brasil, Rodrigo Botti, CFO e COO da Terra Brasis, disse torcer para que a abertura gradual do setor promovida pela Resolução 322 não represente a volta de “operações não ortodoxas” que visavam puramente ampliar remessas de prêmios para fora do Brasil e se tornaram comuns, segundo ele, em 2009 e 2010.

A proliferação das operações de “fronting” foram de fato um dos fatores que motivaram a reversão parcial da abertura do mercado, que entrou em vigor em 2011.

De modo geral, Botti elogiou o conteúdo da Resolução, que permitirá a transferência de 85% dos prêmios de resseguro para o exterior e 75% em operações intragrupo em 2020. Ele criticou porém que a mudança não tenha sido precedida por um diálogo amplo com o mercado.

Botti também disse que a Terra Brasis pretende ter um crescimento significativo nos próximos anos, não descartando novas fusões ou parcerias neste processo.

Qual avaliação que a Terra Brasis faz a Resolução 322?
Achamos negativo a maneira como a Resolução foi implementada. Semelhante ao que fez em 2010, o governo impôs mudanças regulatórias aparentemente por pressões de grupos específicos, sem um diálogo amplo com os diversos participantes de mercado.

O conteúdo da mudança é construtivo. O governo está gradualmente reduzindo os mecanismos impostos em 2010 e retornando o mercado ao arcabouço original que foi implementado em 2008 após longa discussão e negociação entre todos os participantes do mercado.

O ponto central de atenção será o comportamento dos seguradores e resseguradores, principalmente dos grandes grupos internacionais. Será muito negativo ao mercado brasileiro se estes grupos retornarem às práticas vistas entre 2009 e 2010, com a volta de “operações não ortodoxas”, ferindo o espírito da legislação com o objetivo de remeter mais prêmio de seguro ao exterior . Este comportamento foi na verdade, a razão pela qual o governo impôs em 2010 sérias restrições, que estão agora sendo gradualmente extintas.

Como a Terra Brasis está se preparando para as mudanças previstas? O que muda no planejamento até 2020?

Nosso planejamento não mudou. Continuamos a trabalhar para ser a resseguradora preferida pelo mercado brasileiro. Temos uma equipe que muito nos orgulha e que tem impulsionado a Terra Brasis para além de suas metas. Estamos muito contentes em poder informar que já trabalhamos com mais de 75% do mercado brasileiro.Em 2015, iniciamos um processo de expansão regional e hoje já operamos no Mexico, Colômbia, Peru e Equador. Apesar de estar nos primeiros passos, a receptividade desta iniciativa tem sido muito positiva.

Temos nos dedicados também a desenvolvimento de conhecimento sobre o nosso mercado. Achamos esforços neste sentido imprescindíveis ao desenvolvimento do mercado brasileiro e obrigação implícita para resseguradores atuantes no Brasil. Neste sentido desenvolvemos um relatório trimestral de análise de mercado chamado Terra Report, publicamos o Mapa Terra Brasis de Catástrofes Naturais Brasileiras (agora também em versão interativa eletrônica) e demos cursos de resseguros para mais de 300 funcionários de 25 seguradoras.

Como analisa a disputa de mercado com multinacionais que dispõem de maior fôlego financeiro de suas matrizes?

É verdade que os grandes grupos multinacionais, a maioria possuindo seguradora e resseguradora, retém grande parte dos prêmios que originam, porém raramente retém 100%. Portanto não são necessariamente nossos competidores. Uma vez que somos puramente um ressegurador, sem nenhuma operação ou intenção de operar em seguros diretos, podemos ser parceiros de grupos multinacionais. Já fazemos parte hoje, com muito orgulho, do painel de resseguradoras de vários grupos multinacionais.

De qualquer maneira a competição no mercado de resseguro existe e atualmente é brutal. O excesso de liquidez mundial, combinado com a entrada do mercado de capitais no mercado segurador tem posto significativa pressão na indústria. O potencial de crescimento do mercado brasileiro tem atraído companhias do mundo todo. Hoje, 36 dos 40 maiores resseguradoras mundiais já operam no Brasil.Quem ganha com esta competição é o consumidor brasileiro. Temos hoje no país um ecossistema saudável, com presença de diversos tipos de resseguradoras: globais, regionais, locais, generalistas, de nicho, de capital estrangeiro, de capital nacional etc. Seria muito triste e negativo se o mercado brasileiro de resseguro saísse de 70 anos de monopólio, para um oligopólio controlado pelos quatro ou cinco maiores resseguradores mundiais.

A Terra Brasis estuda ou pode vir a estudar algum tipo de fusão ou aliança com grupos de fora? Você acredita que as mudanças podem estimular um redesenho do mercado ressegurador no Brasil?

Nos anos iniciais de operação, estávamos focado em construir uma base sólida de capital humano, em fomentar relacionamentos de longo prazo com clientes e parceiros internacionais, em desenvolver tecnologia própria e em construir um nome de mercado que traduza subscrição de riscos e postura corporativa da mais alta reputação.Com isso em grande parte no lugar, temos agora a intenção de crescer significativamente nos próximos anos. Não temos ainda definido se este crescimento será orgânico ou acelerado por possíveis aquisições, alianças ou fusões.

Para conhecer mais opiniões sobre as mudanças implementadas pela Resolução 322, clique nos links abaixo:

– Mudanças no resseguro dividem mercado
– Novo resseguro terá 
pouco impacto para comprador, diz ABGR

Fonte: Oscar Röcker Netto | Risco Seguro Brasil