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MEGA-SENA: solução ou problema?

15 de dezembro de 2015

mega_sena_resultado_4_-4041046Recentemente vivemos a expectativa da maior premiação da história das loterias no Brasil. Foram dez concursos seguidos sem ninguém acertar o prêmio principal – R$ 205 milhões, para quem acertasse as seis dezenas da Mega-Sena. Proliferavam matérias nos horários nobres da televisão, na imprensa em geral, nas rodas de conversa, nas mesas de bares, na mente das pessoas. Formavam-se imensas filas nas lotéricas. Cada vez mais gente iludida e menos gente correndo atrás de soluções práticas para seus problemas financeiros.

Apesar de as chances de acertar a sena com uma aposta simples serem de uma para cada cinquenta milhões (1:50.000.000), ou o equivalente a 0,00000002% há gente que deposita esperanças em resolver pequenos problemas financeiros apostando em loterias. Pior, há quem gaste mais dinheiro ainda com aplicativos que prometem aumentar as chances em até 80%, como se isso fosse fazer diferença prática. Isso aumentaria as chances para 0,000000032%, ou 1 a cada 18 milhões. E quanto maior o prêmio, mais gente sonha, como se um prêmio maior aumentasse as chances de alguém acertar. Talvez 99% das pessoas que apostam nessas situações resolveriam seus problemas financeiros com poucos milhares de reais e sequer saibam a diferença no estilo de vida de quem têm vinte ou duzentos milhões de patrimônio. Mas, quanto maior o prêmio acumulado, mais pessoas apostam, na frequência e nos valores. Cada vez que o prêmio acumula, apostam mais, o dobro, o triplo. Gastam o que podem e o que não podem. Aí sim, o sonho pode virar problema.

Nada contra loterias. Vez ou outra também aposto. É um fenômeno social. É divertido. É bom torcer. Sonhar. Gera oportunidades para viagens imaginárias sensacionais, conversas especulativas pra lá de curiosas. Pra falar a verdade, também fiquei na expectativa do grande prêmio. Algumas diferenças é que não fiquei iludido e não estava endividado. Diferenças importantes. Apostei pela farra. Para dar oportunidades para a sorte, caso queira me encontrar.

O triste é que quem mais aposta é quem menos poderia, os endividados. Quem está com problemas financeiros deveria juntar os trocados para tentar resolvê-los. E toda atenção e energia. A cada vez que os prêmios acumulam, muita gente desvia dinheiro para apostas que deveria ser usado para amortizar as dívidas. Perdem horas em filas, deixam de trabalhar, desviam o foco, ficam cada vez mais distantes de uma solução. A cada semana pode surgir um ou outro milionário e com certeza milhões de brasileiros ficam mais pobres. E quanto mais acumula o prêmio, mais pobre fica a população.

Tá certo, brasileiro gosta de jogo. Gosta de apostas. Se perguntarmos diretamente se preferem uma chance em dez para ganhar R$ 10 mil ou uma em mil para ganhar 1 milhão, quase todos escolheriam a primeira. Então, por que não apostam melhor? Por que escolhem as apostas mais difíceis, improváveis e quase impossíveis de ganhar? Melhor seria tentar outros jogos. Ou outras alternativas. Ainda que não paguem tanto quanto a Mega-sena, se as chances forem de uma a cada 50 mil, já serão mil vezes maiores. Aí, sim, uma grande diferença!

Talvez isso justifique, em parte, o sucesso dos títulos de capitalização. No fundo, todos sabem que é importante poupar, mas falta disciplina. Os títulos ajudam. Ao mesmo tempo, a maioria alimenta a esperança de um prêmio financeiro que possa mudar sua vida. A capitalização não paga prêmios tão extraordinários, é verdade. Por outro lado, preserva o dinheiro apostado. Quem diria, aquele que já foi considerado o patinho feio do mercado, parece conseguir agradar gregos e troianos. Embora continue não agradando os romanos.

Já sabemos que não se trata de investimento. Também não é loteria. O que é, então? Exatamente o que se propõe a ser. Um instrumento que ajuda na capitalização e oferece prêmios. Ao final, torna muitos brasileiros mais capitalizados e eventualmente uns mais ricos. O importante é que, ao contrário das loterias e outros jogos, não afunda ninguém em dívidas.

Fonte: Fenacap, artigo de Álvaro Modernell