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Ufal decreta luto oficial e se despede de Sávio de Almeida, símbolo da cultura e da história de Alagoas

13 de fevereiro de 2023

A Universidade Federal de Alagoas decreta luto oficial pela perda de seu professor emérito Sávio de Almeida, historiador, pesquisador, dramaturgo, escritor e contador de causos. O professor Sávio faleceu aos 80 anos, na manhã desta sexta-feira (10), e deixa o legado de uma vida dedicada à cultura, à educação pública e à historiografia do Estado. Só com selo da Edufal, ele lançou mais de 40 livros. Sávio de Almeida era professor aposentado do Instituto de Ciências Sociais (ICS).

“Ele tem suas raízes fincadas em Alagoas e ajudou a escrever a história desse chão”, disse uma de suas filhas, Iria Almeida. Sávio deixa seis filhos, nove netos e a esposa Myriam Almeida, com quem foi casado por 40 anos e teve dois de seus filhos. Também deixa muitos amigos e amigas, irmãos de sua caminhada na vida e na Ufal. Era viúvo de Alzeni Carvalho, com quem teve quatro filhas. O velório está sendo no Cemitério Parque das Flores, na Capela 4 e o sepultamento será às 18h.

O reitor  Josealdo Tonholo lamenta a perda de Sávio e ressalta o legado do professor para as futuras gerações. “É muito triste a despedida de Sávio de Almeida, nosso professor emérito, historiador, pesquisador e um símbolo da história de Alagoas. Desde que cheguei em Maceió, tive a oportunidade conhecer o professor Sávio, um guerreiro de Alagoas. Ele não só contava a história, mas era um contador de causos. Com ele, a gente aprendeu muito sobre o nosso estado e sobre a nossa gente. Sávio foi uma liderança científica nas atividades de pesquisa e pós-graduação. Uma referência nacional na área de história e sociologia”, disse.

E completa: “Mais do que um importante pesquisador, que nos deixa um grande legado, Sávio era um amigo querido, uma pessoa de um coração muito generoso. Ele, com certeza, vai fazer muita falta para o estado de Alagoas e para a gente alagoana. Deixo aqui, em meu nome e de toda comunidade da Ufal, minha solidariedade à família e aos amigos”.

O diretor da Edufal, Ivamilson Barbalho, em nome do Conselho Editorial e da equipe de trabalho, também deixa sua mensagem em homenagem ao professor Sávio: “É com profundo pesar que a editora da Universidade Federal de Alagoas, nossa Edufal, lamenta o falecimento do  amigo, companheiro e parceiro professor Luiz Sávio de Almeida. Inúmeras obras publicadas pela Edufal, mais de 40, sempre destacando seu compromisso político e vigor ético com os mais pobres e a luta contínua a favor da justiça, da liberdade e da democracia. A Edufal teve a honra de acolher suas obras ao longo de muitos anos,  marca de um legado em defesa da vida, da ciência, da educação e da cidadania. Nos solidarizamos com seus familiares, esposa, amigos e ex-alunos. Foi um privilégio conviver com o professor Sávio! Sua memória ficará marcada para sempre entre nós. Sávio Almeida vive!”

As reitoras e os reitores honorários da Ufal também se despedem do professor Sávio e lamentam sua perda. Veja abaixo os depoimentos de Valéria Correia, Eurico Lobo, Ana Dayse Dorea e Rogério Pinheiro.

Valéria Correia: “Perdemos um dos maiores historiadores de Alagoas. Tive a oportunidade de dizer a ele mesmo, durante uma homenagem que fizemos a ele na Ufal, o professor Sávio não era só um intelectual, que produzia sobre a história de Alagoas; era um intelectual orgânico porque ele se dedicou à história, mas à história também contada a partir dos indígenas, dos quilombos… Esse olhar específico de Sávio sobre a história de Alagoas marca nossa história. É impossível saber da história de Alagoas sem ler as obras do nosso professor emérito Sávio de Almeida. Eu como ex-reitora da Ufal me solidarizo com os familiares. Ele ficará para nossa história, com seu legado de inúmeros livros publicados, inclusive pela Edufal. Na Bienal de 2017, Sávio foi um dos nossos homenageados, ao lado de Dirceu Lindoso e Élcio Verçosa. Morre Sávio de Almeida, mas sua memória continuará viva na história de Alagoas. Ele se eterniza!”

Eurico Lobo: “É com profundo pesar que recebo a notícia do falecimento do grande professor e historiador Sávio de Almeida. Tivemos a oportunidade de conviver num período bastante rico da nossa Universidade Federal de Alagoas e Sávio sempre foi o grande intelectual, grande democrata, uma pessoa que contribuiu muito para o fortalecimento da nossa instituição. Quero, em nome de todos os amigos, dar um abraço fraterno em toda sua família e manifestar nossos sentimentos. Sei também que é uma grande perda não só para nossa Ufal, mas para toda sociedade alagoana”.

Ana Dayse Dorea: “Recebi com muita tristeza a notícia do falecimento do professor Sávio de Almeida. Ele era uma figura marcante no estado de Alagoas, quer como intelectual, escritor e um grande historiador. Sávio se destacou na cultura alagoana como um dos maiores intelectuais do nosso estado. Um homem de muitas facetas porque era historiador, mas circulava como sociólogo e nas ciências políticas. Por outro lado, um professor do mais alto nível da Universidade, que fez escola e trazia toda sua vivência dessa sua prática para a sala de aula. Vai fazer muita falta à cultura alagoana e à Universidade Federal de Alagoas, que o tinha como um de seus melhores quadros como escritor e historiador. Sávio era uma pessoa diferenciada e que deixa, não só um belo exemplo para a família, mas deixa também toda essa história de vida, da cultura que ele sabia contar tão bem para seus discípulos. Mesmo aposentado da Ufal, sempre era convidado a participar dos eventos da Universidade. Obrigada, Sávio pela sua contribuição ao estado de Alagoas e à nossa UFal! Que Deus o receba na sua paz infinita”.

Rogério Pinheiro: “Sávio de Almeida, ser humano único: criativo, irreverente e revolucionário. Grande ao escrever, brilhante ao pensar e excepcional ao interpretar a alagoanidade”.

Mensagens de despedidas

Amigos e colegas de trabalho se manifestaram em grupos de Whatsapp e deixaram mensagens se despedindo de Sávio de Almeida. Eles prestaram solidariedade à família e lamentaram a perda do professor que é símbolo da história e da cultura alagoanas.

O diretor-presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa de Alagoas, Fábio Guedes, no perfil oficial da Fapeal no Instagram, destaca que a perda de Sávio Almeida abre uma lacuna na comunidade acadêmica e científica: “Devotado aos estudos da formação alagoana, especialmente relacionados à história da classe trabalhadora e as nossas origens étnicas, professor Sávio de Almeida deixa um conjunto de obras que norteará, durante ainda muitas décadas, o desenvolvimento da educação e o desenvolvimento científico, não somente em Alagoas, mas no país também. Além de ter sido um dos pioneiros na criação da pós-graduação em Ciências Sociais da Ufal, Sávio foi um dos artífices da especialização em História de Alagoas no Ifal [Instituto Federal de Alagoas], marcando uma contribuição significativa também para a formação e a contemporaneidade das instituições educacionais no estado. É com muito pesar que recebemos essa triste notícia e, em nome de todos e todas que fazem a Fapeal, nos solidarizamos com os familiares, amigos e toda a comunidade acadêmica e científica de Alagoas”.

O professor Bruno Cesar Cavalcanti, do ICS, também apontou as contribuições deixadas por Sávio de Almeida: “Sávio fundou os estudos de sociologia histórica de Alagoas e foi o primeiro pesquisador social entre nós a fazer a transição de uma formação humanística para a formação científica e acadêmica.”

A diretora do Instituto de Ciência Sociais (ICS) da Ufal, professora Luciana Santana, prestou homenagem a Sávio de Almeida: “O ICS é muito grato ao professor Sávio Almeida por todas as suas contribuições ao Instituto e às Ciências Sociais em Alagoas. Tivemos a oportunidade de homenageá-lo em vida, em 2017, durante nosso evento de História e Memória das Ciências Sociais em Alagoas, ocasião na qual o concedemos a medalha Manuel Diégues Júnior.  Nossa gratidão, admiração e saudade ao generoso Sávio.”

O professor Fernando Rodrigues, também do ICS, falou da versatilidade de Sávio em atuar em diversos ambientes em suas pesquisas e revelou um de seus sonhos: a igualdade. “Sávio de Almeida: escritor, intérprete e obreiro do chão das Alagoas. Como grande homem, andou pelas encruzilhadas. Da missa ao toré, passando pela gira; do púlpito ao popular, na ação católica; dos povos indígenas aos pretos, nas pesquisas de campo; da Academia de Letras ao Teatro de Feira; da boemia à fidalguia, da família política à intelectual; filho de Manoel de Almeida, ‘irmão’ de Gildo Marçal Brandão, e companheiro de Myriam Almeida. Homem do poder, secretário de educação, abriu as portas do Teatro Deodoro para as mães e pais de santo. Homem do boteco, com os amigos e amigas, recriando dramas populares. Mais tarde tornou-se intelectual. Historiador, sociólogo, politólogo. Sonhava com a igualdade. Deixou muitos filhos e filhas, além dos consanguíneos. Estão atrás do Moleque Namorador, da Tia Marcelina, da identidade alagoana. Ou não… Desdobrou-se como professor na Ufal e fora dela, em muitos livros e textos. Nos publicados e nos que virão a ser, como esse lugar… Alagoas.”

A professora e amiga Rachel Rocha lamenta a perda de Sávio de Almeida e descreve como muito triste e uma notícia difícil de aceitar. “Conheci Sávio desde que entrei  na Ufal como aluna da graduação. Ele sempre foi uma figura aglutinadora, no sentido de gostar de ter discípulos ao seu redor, que abraçava nossos ímpetos juvenis. Ele era uma figura muito acolhedora e participou de uma maneira muito efetiva da formação de uma geração, na qual eu me incluo. Ele não foi meu professor diretamente, ele era essa figura que a gente se reunia ao redor dele, não necessariamente em aula, mas em encontros, em seminários e nas palestras dele”.

Rachel destaca ainda: “Sávio produziu muito. Acho que a etnologia indígena, contemporânea também devem muito a ele. Além de ter sido uma pessoa que transitou muito por uma sociologia que deu conta de movimentos operários aqui em Maceió e em Alagoas. É uma figura como uma trajetória intelectual muito interessante, mas, ao mesmo tempo, uma espécie de ‘guru’, que aglutinava, que gostava de ver em torno dele uma juventude inquieta nos anos 1980. Inquieta por conhecer, por produzir, fazer pesquisa. Ele deixa uma saudade muito grande, mas preenchida com as boas lembranças e a sua obra. Foi um bom amigo, um homem extremamente ético em suas pesquisas, no relacionamento com os personagens estudados. Ele nos ensinava isso também. Para além dos estudos de etnologia alagoana, Sávio foi um pensador, um historiador e um sociólogo importante, abordando temas relacionados a essa área”.